SEBO ARILOQUE - LIVROS E HQ's

De um click e procure seu livro!

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

THE DOORS - COM QUASE UMA DÉCADA DE ATRASO, O FILME É LANÇADO EM DVD (08/08/2009)

Em 2009, após dezoito anos do lançamento do filme nos cinemas, The Doors, de Oliver Stone é lançado em DVD, pela Sony Pictures. O box conteinha dois discos: o primeiro com o filme que apresenta versões de áudio e legendas em português (aleluia!) e o segundo com extras de produção, cenas excluídas, locações e depoimentos, todos estes relacionando o casting com a própria trajetória da banda. Surpreendente é ver no verso da capa do dvd, um selo da APCM (Associação Anti-Pirataria Cinema e Música), ao lado da indicação “não recomendado para menores de 18 anos... contém: conflitos psicológicos, violência, sexo e consumo de drogas”. Deixando a questão da censura para outro momento, The Doors – O Filme é um dos casos clássicos em que os responsáveis pelos direitos do filme “clamaram” pela pirataria. Levando-se em conta o papel do longa em seu período de lançamento, seu sucesso junto ao público, impulsionado pelo forte apelo comercial da indústria fonográfica que “re-descobria” o rock, levar quase uma década para tal lançamento foi, no mínimo, burrice! O filme foi interminavelmente copiado em VHS, DVD e digital! Algo óbvio, uma vez que o fã de cinema e rock certamente desejará tê-lo na estante, tamanha sua importância. O duro é saber que só foi permitido o lançamento agora, em vésperas da transição do atual formato para a tecnologia blue-ray (que já dispunha do título, bem antes). Brasileirices.

O “SOLDADO CONHECIDO”: OLIVER STONE

Todas as vezes que você souber do lançamento de um filme do cineasta Oliver Stone, jamais deixe de observar o contexto de acontecimentos históricos, pelo menos nos cinco anos anteriores a sua estreia. Quando tomou as telas em 1991, o filme The Doors tinha como pano de fundo principal, no contexto norte-americano, a Guerra do Golfo e, no panorama mundial, os “cacos” do Muro de Berlim. Eternamente contrário ao “sonho republicano” dos grandes mandatários da política do Tio Sam (indústrias armamentista e petrolífera – ambas necessárias para se fazer guerras), Stone recuperou sua memória atormentada de ex-soldado no Vietnã (já explicitada por ele de forma impressionante em Platoon, de 1986 e Nascido em 4 de Julho, de 1989), quando em meio às alucinações de dor e terror, se entregava ao delírio e sensualidade da poesia de Jim Morrison. Portanto não havia um período mais indicado para a efetivação de uma obra cinematográfica que retratasse toda a rebeldia embalada pelo bom e velho rock, do que aquela que unia no “Rei Lagarto”, a síntese da loucura psicodélica, libertação sexual e pluralidade de crenças dos anos 60. Mas, não foi somente isso...

Stone, quarto da esquerda para direita: ex-soldado no Vietnã e cinema 100% contextualizado
A INDÚSTRIA FONOGRÁFICA: SEMPRE ELA!

Com as bandas de Seattle, metendo os pés na mídia dos anos 90, dominada pela música pop, um filão de bandas chamadas “antigas” voltaram a dar o ar de sua graça[1]. No respiro que o rock conseguiu dar neste contexto (e desde os anos 50 sempre foi assim!), fosse com pseudo-punks, hard-farofa, old-new-ages ou dinossauros jurássicos, novamente passou a ocupar seu lugar nas alturas. O período marcava a transição dos LP’s (ainda amados por muitos), para os CD’s (cuja promessa de durabilidade nos enganou a todos!). Com o sucesso do filme “biográfico” (Stone não aceita essa ideia) de Jim Morrison e banda, a indústria fonográfica (sempre ela!) arregalou os olhos e durante pelo menos cinco anos consecutivos, lançou incontáveis títulos, fossem estes da discografia original ou ao vivo, não somente do The Doors, mas de todos os ícones do rock dos anos 60 e 70: The Beatles, Rolling Stones, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Led Zeppelin (apenas para citar alguns). Dos porões das gravadoras, surgiram centenas e milhares de gravações “inéditas”, conversas entre músicos, vídeos, fotos perdidas, textos manuscritos, etc, que rechearam os encartes de disquinhos prateados no decorrer dos próximos 15 anos.

OS ANOS 90, CONSTRÓEM SEU “MITO”. E DEPOIS?

Tendo seu fôlego retomado, o rock requisitou aquilo que tanto fez na sua trajetória sexagenária: construir mitos. Mais importante do que as bandas que retomaram suas atividades e fizeram shows pelo mundo, o marco da década foi o suicídio de Kurt Cobain que, aos 27, encontrou a morte, objeto de tanto fetiche do “xamã” Jim Morrison. Depois disso, nada mais foi igual no rock. Nem mesmo o atual revival dos anos 90, com bandas retornando a ativa e fazendo shows, tem empolgado. A geração dos “2000” não foi capaz de se quer produzir um mito, uma vez que Amy Winehouse, pouco conseguiu "fazer" após sua morte. Assim, é possível entender às tantas e infindáveis manifestações a Michael Jackson, na sua recente partida. Começo a imaginar que as gerações vão derrapando pela sua incapacidade de gerar mitos (Jung explica!), característica essa que marcou o cheiro da juventude pelos tempos. This is the end?

Trailer: http://video.br.msn.com/watch/video/kurt-cobain-o-diario-de-uma-ausencia/d3fiw1j0

[1] Este tema está mais detalhado aqui neste blog em dois textos:
O TEMPLO DOS CÃES - APÓS QUASE 20 ANOS DA SUA EXPLOSÃO, O GRUNGE ESTÁ SEPULTADO EM SEU ''ANTI-MOVIMENTO''
http://sonoropanegirico.ning.com/profiles/blogs/o-templo-dos-caes-apos-quase
TEMPLO DOS CÃES II: VENDILHÕES
http://sonoropanegirico.ning.com/profiles/blogs/templo-dos-caes-ii-vendilhoes

Para saber mais:

Filme recente sobre Kurt Coubain - Retrato de uma Ausência (2007):
http://cinema.uol.com.br/ultnot/multi/2009/07/30/0402386CDCC18346.jhtm?trailer-do-filme-kurt-cobain--retrato-de-uma-ausencia-0402386CDCC18346 
 

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O TEMPLO DOS CÃES - APÓS QUASE 20 ANOS DA SUA EXPLOSÃO, O GRUNGE ESTÁ SEPULTADO EM SEU ''ANTIMOVIMENTO'' (21/03/2010)

Nirvana: a "chave" do chamado GRUNGE

TUDO É "ROCK" NOS ANOS 80


Boa parte das bandas de rock, remanescentes dos anos 60 e 70, se apresentavam na década de 80 como “colcha de retalhos” ou como “heróis da resistência” daquilo que produziram em seu tempo. Procuravam empurrar com a barriga seu legado para um contexto em que a mídia misturava inúmeras vertentes musicais no mesmo balaio, chamando a tudo de Rock. A música pop, tão evidenciada nesta década, tomava espaço ao lado do new wave, hard rock, heavy metal, punk, rock progressivo, etc, sobretudo nas publicações periódicas especializadas (como é o caso da revista Bizz, no Brasil) e na MTV que começava a se espalhar para o mundo como “aglutinadora de estilos musicais”. E nesta “salada” que a indústria do entretenimento colocava a mesa, surgiam personagens que ocupavam seus espaços no mercado, passando desapercebidos por uns, enquanto idolatrados por outros. O vazio então se preenche com o que se apresenta de opção: Michael Jackson, recordista absoluto de vendagem de discos na década, permanece no top musical, e a febre das “boy bands”, reconfigurada para substituindo os exóticos meninos latinos do Menudo, por jovens caucasianos americanos do New Kids on The Block (imitados por uma dúzia de grupos congêneres), com melhor penetração no mercado europeu. E a década 90 é iniciada com ambos, Michael Jackson e New Kids, no topo da parada de sucessos, em quase todo o mundo, seguidos pela megalomania do Guns'n Roses e as "new glitters" Poison, Skid Row, Motley Crue, dentre outras.


O MAPA DA CONSTRUÇÃO DE UMA CENA MUSICAL


O mundo passava por mudanças significativas na década de 80, tendo na quebra da URSS talvez, sua mais importante situação. A idéia de uma “dualidade” na configuração mundial, sobretudo a proposta de um ideário esquerdista, contaminava não somente os corações politizados, mas alimentava o que se pode chamar propensão “outsider” de indivíduos ou grupos. No Brasil, Cazuza sintetizou bem o “vazio” ideológico global que se estabelecia com a “vitória” do capitalismo, quando cantou “o meu partido é um coração partido” ou “ideologia... eu quero uma pra viver”. Não havendo mais um “norte subversivo” pairando sob os campos tradicionais sociais da estrutura capital, as mentes irriquietas abraçaram a angústia e já não chorava seus “heróis” que “morreram de overdose”. Parecia nada ter sobrado. Mas Jimi Hendrix não poderia passar desapercebido como lenda, sobretudo para a juventude da cidade onde nasceu: Seattle. A maior cidade do Estado de Washington, está localizada geograficamente na costa do Oceano Pacífico, na divisa com o Canadá, vive basicamente da indústria de tecnologia e do turismo em parques nacionais com suas cadeias montanhosas. Do ponto de vista do cultural, viveu grande movimentação com a chamada Exposição Mundial, ocorrida no ano de 1962. Desde então, a escassez de eventos culturais de grande porte se arraigou, tendo nas chuvas incidentes na média de 200 dias por ano, uma das responsáveis pela falta de interesse na região. A solução para jovens entediados descendentes das classes médias baixas e mais pobres da sociedade, com mínimas opções de diversão era formar bandas de rock, tocar em suas garagens e, quando possível, nos clubes da cidade, para espremidos espectadores sedentos por “alguma coisa”. A situação exigia um estilo musical simples que pudesse expor toda a revolta contra si mesmo e contra a sociedade. Eis então a adoção do punk-rock, que atendia a estes “desinteresses”. Isso “cheirava a espírito juvenil”.


GRUNGE: UM NOME DA MODA E DO "MOVIMENTO”




Do momento em que o Nirvana entrou num estúdio para gravar seu segundo álbum, Nevermind, em 1991, nada mais foi igual por aquelas bandas dos EUA e pelo mundo. Logo a indústria fonográfica direcionou suas atenções para Seattle, causando um grande movimento migratório de bandas que nesta conjuntura, buscavam o estrelato. No entanto, os produtores deste estilo musical, como o lendário Jack Endino, estavam bem antenados com o contexto geral do nascimento das bandas de Seattle, sendo ele oriundo deste meio. Sendo assim, notaram que a abertura de leque quanto as vertentes musicais era fundamental para a expansão do “movimento”, seguindo basicamente três linhas diferentes, aproveitando a configuração das bandas locais: o punk-rock, tendo como maior expoente o Nirvana; o hard rock, mais aproximado ao Pearl Jam; e o Heavy Metal, encabeçado por Soundgardem e o Alice in Chains. Evidentemente que os hábitos e vestimentas que adornaram esta ebulição, além dos cabelos longos e largados, comportava camisão quadriculado de mangas compridas (usado por lenhadores da fronteira com o Canadá) e os bermudões do surfista Eddie Vedder, foram aderidos pela indústria da moda que, ali, abriu seu nicho do que chamou “Moda Grunge”. Apoiado no lançamento de cada uma das bandas citadas acima, que a tiracolo trazia outras bandas em seu rastro, o que se apresentou como Movimento Grunge, passou longe de ser de fato, um movimento. A proliferação desta ideia de “movimento” para a cena que surgia foi criada nos bastidores da indústria, que desde a década de 50 vê o rock como grande fonte de lucro, tendo na juventude seu consumidor nato. Embasou-se muito mais na “rebeldia” em se vestir, do que propriamente numa proposta efetiva de transformação social. Não é por acaso que, no auge da coisa, uma bermuda custava cerca de 300 dólares em qualquer loja da cidade! Se existe uma definição que caiba ao tema, certamente está em “anti-movimento”. Longe de levantar bandeiras de destruição total do sistema capital ou mesmo cantar “peace and love” com batas coloridas e flores, o Rock de Seattle gritou nos microfones o vazio existencial de uma geração que não apontava direção alguma e decidia então expressar isso em letras recheadas de dúvidas e incertezas, drogas e álcool, paixões e decepções. As agonias de Kurt Cobain, mais do que qualquer outro personagem do seu tempo, apresentaram-se em suas letras, a violenta distância de qualquer perspectiva otimista. As drogas, que ocupavam o lugar de algo que faltava, passaram a ser a fuga do excesso de coisas que contornavam-no como mídia, escândalos com a esposa Courtney Love, agendas de shows, etc. Em 5 de abril de 1994, um tiro não tirou somente a sua vida, como sepultou o Grunge, condenado desde o nascimento.


Por Adriano C. Tardoque


Para saber mais:


Mundi – Dados de Seattle:
http://www.mundi.com.br/Wiki-Seattle-Washington-2392735.html

Editora Abril – Boletim Revista Bizz sobre a morte de Kurt Kobain em 1994:
http://www.abril.com.br/noticia/diversao/no_288563.shtml

Rock Online – Novo livro declara a “Morte do Grunge”:
http://territorio.terra.com.br/canais/rockonline/noticias/ultimas.asp?noticiaID=18980

Filmes:



Hype!, Filme documentário de Doug Pray, sobre o Grunge, lançado em 1996. Site oficial do diretor:
http://www.dougpray.com/



Kurt and Courtney. Filme documentário de Nick Broomfield, sobre a morte de Kurt Kobain, lançado em 1999. Matéria:
http://territorio.terra.com.br/canais/rockonline/materias/materia.asp?codArea=3&materiaID=104




Por Adriano Tardoque

quarta-feira, 28 de julho de 2010

INDICAÇÃO: CD "FROM THE PLANTATION TO THE PENITENTIARY" [2007] - WYNTON MARSALIS

Sem sombra de dúvida, Wynton Marsalis é um dos mais espetaculares músicos de Jazz de todos os tempos. Ainda que muitos o critiquem pela posição que atingiu no meio, chegando a "arbitrar" o que é ou não música de qualidade, seu potencial junto ao trompete o redime de qualquer  tipo de ressentimento que possa surgir. Marsalis soube criar uma síntese qualitativa e sequencial do que trouxeram Louis Armstrong, Dizzy Gillespie, Miles Davies e outros grandes nomes da história deste gênero musical. Com o álbum "From The Plantation To The Penitentiary" (lançado em 2007), desfere um golpe certeiro nos ouvidos dos amantes do jazz, ao conceituar seu álbum no contexto histórico da vida do negro "da plantação para a penitenciária". Um ano depois do lançamento do disco, os EUA escolheram como seu representante máximo Barak Obama, um politico  que representa o negro no poder e os processos de miscigenação como uma das principais características também da sociedade norte-americana (Obama tem pai queniano e mãe americana). O negro a quem Marsalis se refere está superlotando prisões e nelas vem sendo explorado pelo mesmo sistema capital de outros tempos (prisões são linhas de produção  com mão-de-obra barata), configurando a continuidade de algo que incrivelmente passa despercebido ante a tantas "novidades" festivas. Sem querer me alongar, indico que ouçam a primeira música do álbum e tire você mesmo a conclusão sobre a qualidade musical, o nível do toque instrumental e o grau de dramaticidade da canção. E depois me diga se exagerei nos meus adjetivos. 

Por A.Tardoque

Sobre Marsalis: http://www.wyntonmarsalis.org/

Livro: GUIA DO JAZZ, de Sérgio Karan, Editora L&PM, Porto Alegre, 1993. páginas 194-197

Ouça "From The Plantation To The Penitenriary" no Youtube:


LICENCIADO

Licença Creative Commons
SONORO PANEGÍRICO de Adriano C. Tardoque é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution 3.0 Unported.
Permissions beyond the scope of this license may be available at http://www.facebook.com/adriano.tardoque.