Nirvana: a "chave" do chamado GRUNGE |
TUDO É "ROCK" NOS ANOS 80
Boa parte das bandas de rock, remanescentes dos anos 60 e 70, se apresentavam na década de 80 como “colcha de retalhos” ou como “heróis da resistência” daquilo que produziram em seu tempo. Procuravam empurrar com a barriga seu legado para um contexto em que a mídia misturava inúmeras vertentes musicais no mesmo balaio, chamando a tudo de Rock. A música pop, tão evidenciada nesta década, tomava espaço ao lado do new wave, hard rock, heavy metal, punk, rock progressivo, etc, sobretudo nas publicações periódicas especializadas (como é o caso da revista Bizz, no Brasil) e na MTV que começava a se espalhar para o mundo como “aglutinadora de estilos musicais”. E nesta “salada” que a indústria do entretenimento colocava a mesa, surgiam personagens que ocupavam seus espaços no mercado, passando desapercebidos por uns, enquanto idolatrados por outros. O vazio então se preenche com o que se apresenta de opção: Michael Jackson, recordista absoluto de vendagem de discos na década, permanece no top musical, e a febre das “boy bands”, reconfigurada para substituindo os exóticos meninos latinos do Menudo, por jovens caucasianos americanos do New Kids on The Block (imitados por uma dúzia de grupos congêneres), com melhor penetração no mercado europeu. E a década 90 é iniciada com ambos, Michael Jackson e New Kids, no topo da parada de sucessos, em quase todo o mundo, seguidos pela megalomania do Guns'n Roses e as "new glitters" Poison, Skid Row, Motley Crue, dentre outras.
O MAPA DA CONSTRUÇÃO DE UMA CENA MUSICAL
O mundo passava por mudanças significativas na década de 80, tendo na quebra da URSS talvez, sua mais importante situação. A idéia de uma “dualidade” na configuração mundial, sobretudo a proposta de um ideário esquerdista, contaminava não somente os corações politizados, mas alimentava o que se pode chamar propensão “outsider” de indivíduos ou grupos. No Brasil, Cazuza sintetizou bem o “vazio” ideológico global que se estabelecia com a “vitória” do capitalismo, quando cantou “o meu partido é um coração partido” ou “ideologia... eu quero uma pra viver”. Não havendo mais um “norte subversivo” pairando sob os campos tradicionais sociais da estrutura capital, as mentes irriquietas abraçaram a angústia e já não chorava seus “heróis” que “morreram de overdose”. Parecia nada ter sobrado. Mas Jimi Hendrix não poderia passar desapercebido como lenda, sobretudo para a juventude da cidade onde nasceu: Seattle. A maior cidade do Estado de Washington, está localizada geograficamente na costa do Oceano Pacífico, na divisa com o Canadá, vive basicamente da indústria de tecnologia e do turismo em parques nacionais com suas cadeias montanhosas. Do ponto de vista do cultural, viveu grande movimentação com a chamada Exposição Mundial, ocorrida no ano de 1962. Desde então, a escassez de eventos culturais de grande porte se arraigou, tendo nas chuvas incidentes na média de 200 dias por ano, uma das responsáveis pela falta de interesse na região. A solução para jovens entediados descendentes das classes médias baixas e mais pobres da sociedade, com mínimas opções de diversão era formar bandas de rock, tocar em suas garagens e, quando possível, nos clubes da cidade, para espremidos espectadores sedentos por “alguma coisa”. A situação exigia um estilo musical simples que pudesse expor toda a revolta contra si mesmo e contra a sociedade. Eis então a adoção do punk-rock, que atendia a estes “desinteresses”. Isso “cheirava a espírito juvenil”.
Boa parte das bandas de rock, remanescentes dos anos 60 e 70, se apresentavam na década de 80 como “colcha de retalhos” ou como “heróis da resistência” daquilo que produziram em seu tempo. Procuravam empurrar com a barriga seu legado para um contexto em que a mídia misturava inúmeras vertentes musicais no mesmo balaio, chamando a tudo de Rock. A música pop, tão evidenciada nesta década, tomava espaço ao lado do new wave, hard rock, heavy metal, punk, rock progressivo, etc, sobretudo nas publicações periódicas especializadas (como é o caso da revista Bizz, no Brasil) e na MTV que começava a se espalhar para o mundo como “aglutinadora de estilos musicais”. E nesta “salada” que a indústria do entretenimento colocava a mesa, surgiam personagens que ocupavam seus espaços no mercado, passando desapercebidos por uns, enquanto idolatrados por outros. O vazio então se preenche com o que se apresenta de opção: Michael Jackson, recordista absoluto de vendagem de discos na década, permanece no top musical, e a febre das “boy bands”, reconfigurada para substituindo os exóticos meninos latinos do Menudo, por jovens caucasianos americanos do New Kids on The Block (imitados por uma dúzia de grupos congêneres), com melhor penetração no mercado europeu. E a década 90 é iniciada com ambos, Michael Jackson e New Kids, no topo da parada de sucessos, em quase todo o mundo, seguidos pela megalomania do Guns'n Roses e as "new glitters" Poison, Skid Row, Motley Crue, dentre outras.
O MAPA DA CONSTRUÇÃO DE UMA CENA MUSICAL
O mundo passava por mudanças significativas na década de 80, tendo na quebra da URSS talvez, sua mais importante situação. A idéia de uma “dualidade” na configuração mundial, sobretudo a proposta de um ideário esquerdista, contaminava não somente os corações politizados, mas alimentava o que se pode chamar propensão “outsider” de indivíduos ou grupos. No Brasil, Cazuza sintetizou bem o “vazio” ideológico global que se estabelecia com a “vitória” do capitalismo, quando cantou “o meu partido é um coração partido” ou “ideologia... eu quero uma pra viver”. Não havendo mais um “norte subversivo” pairando sob os campos tradicionais sociais da estrutura capital, as mentes irriquietas abraçaram a angústia e já não chorava seus “heróis” que “morreram de overdose”. Parecia nada ter sobrado. Mas Jimi Hendrix não poderia passar desapercebido como lenda, sobretudo para a juventude da cidade onde nasceu: Seattle. A maior cidade do Estado de Washington, está localizada geograficamente na costa do Oceano Pacífico, na divisa com o Canadá, vive basicamente da indústria de tecnologia e do turismo em parques nacionais com suas cadeias montanhosas. Do ponto de vista do cultural, viveu grande movimentação com a chamada Exposição Mundial, ocorrida no ano de 1962. Desde então, a escassez de eventos culturais de grande porte se arraigou, tendo nas chuvas incidentes na média de 200 dias por ano, uma das responsáveis pela falta de interesse na região. A solução para jovens entediados descendentes das classes médias baixas e mais pobres da sociedade, com mínimas opções de diversão era formar bandas de rock, tocar em suas garagens e, quando possível, nos clubes da cidade, para espremidos espectadores sedentos por “alguma coisa”. A situação exigia um estilo musical simples que pudesse expor toda a revolta contra si mesmo e contra a sociedade. Eis então a adoção do punk-rock, que atendia a estes “desinteresses”. Isso “cheirava a espírito juvenil”.
GRUNGE: UM NOME DA MODA E DO "MOVIMENTO”
Do momento em que o Nirvana entrou num estúdio para gravar seu segundo álbum, Nevermind, em 1991, nada mais foi igual por aquelas bandas dos EUA e pelo mundo. Logo a indústria fonográfica direcionou suas atenções para Seattle, causando um grande movimento migratório de bandas que nesta conjuntura, buscavam o estrelato. No entanto, os produtores deste estilo musical, como o lendário Jack Endino, estavam bem antenados com o contexto geral do nascimento das bandas de Seattle, sendo ele oriundo deste meio. Sendo assim, notaram que a abertura de leque quanto as vertentes musicais era fundamental para a expansão do “movimento”, seguindo basicamente três linhas diferentes, aproveitando a configuração das bandas locais: o punk-rock, tendo como maior expoente o Nirvana; o hard rock, mais aproximado ao Pearl Jam; e o Heavy Metal, encabeçado por Soundgardem e o Alice in Chains. Evidentemente que os hábitos e vestimentas que adornaram esta ebulição, além dos cabelos longos e largados, comportava camisão quadriculado de mangas compridas (usado por lenhadores da fronteira com o Canadá) e os bermudões do surfista Eddie Vedder, foram aderidos pela indústria da moda que, ali, abriu seu nicho do que chamou “Moda Grunge”. Apoiado no lançamento de cada uma das bandas citadas acima, que a tiracolo trazia outras bandas em seu rastro, o que se apresentou como Movimento Grunge, passou longe de ser de fato, um movimento. A proliferação desta ideia de “movimento” para a cena que surgia foi criada nos bastidores da indústria, que desde a década de 50 vê o rock como grande fonte de lucro, tendo na juventude seu consumidor nato. Embasou-se muito mais na “rebeldia” em se vestir, do que propriamente numa proposta efetiva de transformação social. Não é por acaso que, no auge da coisa, uma bermuda custava cerca de 300 dólares em qualquer loja da cidade! Se existe uma definição que caiba ao tema, certamente está em “anti-movimento”. Longe de levantar bandeiras de destruição total do sistema capital ou mesmo cantar “peace and love” com batas coloridas e flores, o Rock de Seattle gritou nos microfones o vazio existencial de uma geração que não apontava direção alguma e decidia então expressar isso em letras recheadas de dúvidas e incertezas, drogas e álcool, paixões e decepções. As agonias de Kurt Cobain, mais do que qualquer outro personagem do seu tempo, apresentaram-se em suas letras, a violenta distância de qualquer perspectiva otimista. As drogas, que ocupavam o lugar de algo que faltava, passaram a ser a fuga do excesso de coisas que contornavam-no como mídia, escândalos com a esposa Courtney Love, agendas de shows, etc. Em 5 de abril de 1994, um tiro não tirou somente a sua vida, como sepultou o Grunge, condenado desde o nascimento.
Por Adriano C. Tardoque
Para saber mais:
Mundi – Dados de Seattle:
http://www.mundi.com.br/Wiki-Seattle-Washington-2392735.html
Editora Abril – Boletim Revista Bizz sobre a morte de Kurt Kobain em 1994:
http://www.abril.com.br/noticia/diversao/no_288563.shtml
Rock Online – Novo livro declara a “Morte do Grunge”:
http://territorio.terra.com.br/canais/rockonline/noticias/ultimas.asp?noticiaID=18980
Filmes:
Hype!, Filme documentário de Doug Pray, sobre o Grunge, lançado em 1996. Site oficial do diretor:
http://www.dougpray.com/
Kurt and Courtney. Filme documentário de Nick Broomfield, sobre a morte de Kurt Kobain, lançado em 1999. Matéria:
http://territorio.terra.com.br/canais/rockonline/materias/materia.asp?codArea=3&materiaID=104
Por Adriano Tardoque
Por Adriano C. Tardoque
Para saber mais:
Mundi – Dados de Seattle:
http://www.mundi.com.br/Wiki-Seattle-Washington-2392735.html
Editora Abril – Boletim Revista Bizz sobre a morte de Kurt Kobain em 1994:
http://www.abril.com.br/noticia/diversao/no_288563.shtml
Rock Online – Novo livro declara a “Morte do Grunge”:
http://territorio.terra.com.br/canais/rockonline/noticias/ultimas.asp?noticiaID=18980
Filmes:
Hype!, Filme documentário de Doug Pray, sobre o Grunge, lançado em 1996. Site oficial do diretor:
http://www.dougpray.com/
Kurt and Courtney. Filme documentário de Nick Broomfield, sobre a morte de Kurt Kobain, lançado em 1999. Matéria:
http://territorio.terra.com.br/canais/rockonline/materias/materia.asp?codArea=3&materiaID=104
Por Adriano Tardoque
Meus parabéns fantástico(como de costume) muito claro.
ResponderExcluirTexto e ponto de vista fantásticos! Muito interessante a questão do anti-movimento! Acho que é justamente por isso que torna o Grunge tão fascinante e diferente de tudo! Parabéns pelo texto!
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